quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Os Efeitos Colaterais do Rastreamento


Há um pensamento comum de que caso se possa detectar precocemente uma doença, é melhor que o façamos o mais rapidamente possível, principalmente quando ela for potencialmente letal como por exemplo, um câncer de próstata ou mama. O que não é comum é a idéia de que isso possa trazer prejuízos, muitas vezes graves. A bem da verdade, alguns exames de rastreamento podem de fato trazer mais problemas que a própria doença que procuram.

Um exame de rastreamento (em inglês, screening) para ser útil em rastrear uma doença em grande escala, precisa ser pouco invasivo (de preferência, um exame de sangue ou raio-x simples), barato, ter poucos resultados falso-positivos e falso-negativos. Disse poucos, porque é impossível eliminar situações onde resultados são positivos e o paciente NÃO tem a doença (falso-positivo) ou negativo, o que é mais grave, e o paciente TEM a doença. Por essa razão, os testes de rastreamento em geral são mais sensíveis que específicos o que significa que raramente deixam escapar o diagnóstico. Em compensação, às vezes diagnosticam doenças em quem não tem nada. Se deixar escapar um diagnóstico de uma doença letal é muito grave, diagnosticar doença em quem não tem gera um problema sério: novas condutas!

Esclareço. Um exame de próstata positivo pode gerar uma biópsia prostática. Múltiplas pequenas perfurações que, não raro, sangram de forma importante. Uma imagem estranha na mama pode gerar múltiplas biópsias e um comprometimento psicológico difícil de quantificar por quem nunca passou por uma situação dessas.

Por isso, o debate sobre o screening do câncer de próstata continua e parece interminável. Alguns aproveitam a ansiedade que muitos pacientes têm e, a exemplo do que acontece com o teste de gravidez, lançam teste de autodiagnóstico para câncer de próstata!! Um paciente que compra esse kit sem falar com seu médico já tem um grau de ansiedade maior do que a população normal. Imagine se o teste der um falso positivo!

2 comentários:

Maria Guimarães disse...

por coincidência, ouvi ontem algo sobre o tema no podcast de medicina da johns hopkins (http://www.hopkinsmedicine.org/mediaII/Podcasts.html)
mas é outro enfoque. parece que nos estados unidos agora não se recomenda rastreamento para câncer de próstata depois dos 75 anos.
a idéia é que a partir dessa idade, considerando-se a velocidade (lenta) de avanço da doença, o exame - com possibilidade de biópsia, tratamento e tal - tem grandes chances de reduzir a expectativa de vida em vez de aumentar. fazer mais mal do que bem.
achei interessante o comentário do rick lange, o médico que faz o podcast: os médicos devem acatar a recomendação sem problemas, o difícil será os pacientes que já chegam ao consultório querendo exames e remédios.

Karl disse...

Concordo, Maria.

Para lembrar que o conceito de qual medicina é praticada em cada sociedade vem antes da própria sociedade e não dos médicos (apesar dos oportunistas de plantão).

Grande Abraço