terça-feira, 1 de julho de 2008

Technological Invention of Disease and Decline of Autopsies


Interessante artigo no São Paulo Medical Journal. Seria o declínio mundial das autópsias decorrente de uma mudança no conceito de doença? As autópsias estão caindo mesmo em países onde é obrigatória!
Seriam as autópsias parte de uma racionalidade médica que está sendo ultrapassada? O debate parece estar só começando... Segue tabela com a queda das autópsias nos vários países do mundo.

4 comentários:

Maria Guimarães disse...

será que tem também a ver com a hegemonia genômica? doenças são defeitos nos genes, que não se vê numa autópsia.
falta o próximo passo, que é de integrar todas as dimensões que compõem um organismo.

Karl disse...

Entendo que várias doenças são mediadas geneticamente. Entretanto, quando se tenta atribuir deterministicamente a totalidade das enfermidades humanas aos genes, já acho que existe um certo de exagero.

O artigo é provocativo, pois parte de um pressuposto forte que é a invenção tecnológica da doença. Isso é muito mais que diagnóstico. É uma hipertrofia de uma ferramenta. Alguém pode negar que esse fenômeno esteja realmente ocorrendo?

Maria Guimarães disse...

mostrei o artigo para a suzana, que é patologista e minha maior referência para assuntos médicos. colo aqui o que ela comentou, com a permissão dela.

"essa visão supõe que tudo o que podia-se aprender com as análises post-mortem, ou seja, com a morfologia, a anatomia das doenças, já foi aprendido. isso nao é verdade. alem disso, a morfologia ainda é o gold standard de vérios diagnósticos. um bom exemplo é a oncologia. apesar de toda tecnologia de imagem, onde tumores podem ser vistos e medidos sem necessidade de uma incisão de pele que seja, eles ainda precisam fazer uma biópsia pra avaliar de que tipo de tumor se trata pois o tratamento e o prognóstico, nesse caso o mais importante praquele corpo vivente, vêm dessa definição. ou seja, no final a patologia cirúrgica ainda dita o curso de muito tratamento. ao determinar o tipo do tumor, definido pelas suas características morfológicas (a tecnologia ainda não inventou outras definições) o patologista informa o clínico, oncologista, cirurgião, do melhor tratamento e das chances daquele paciente. dermatologia é outra área que ainda depende da morfologia, ou seja, tudo que é doenca de pele, principalmente as auto-imunes que são serias, tem a mesma cara: bolhas, crostas, ferida. a distribuição dá umas dicas da natureza do processo mas a avaliacao da biopsia é que dá o diagnóstico final.
enfim, estou querendo chegar no fundo dessa questão dos cadáveres por outro lado, pelo lado da patologia cirúrgica. tudo que se sabe hoje em patologia cirúrgica foi aprendido com cadáveres. só sabemos identificar um tumor através de um micropedaço porque pudemos, um dia, ver o tumor todo, aprender toda as possiveis variações dele. isso só com cadáver. eu acredito que a relação entre o hospedeiro e a doença, ou seja, corpo e micróbio, corpo e câncer, é dinâmica e mutável. as adaptações vão surgindo. as variações vão se acumulando. e se pararmos de estudar os cadáveres, vamos perder esse tipo de insight.

Karl disse...

Concordo com sua amiga em vários pontos. Estamos perdendo a noção do todo.

Só que isso não explica porque as autópsias estão caindo!!!

Na visão do artigo, as autópsias caem pelas mesmas razões que fazem com que outras áreas da ciência médica que tentam unir as partes ao todo, também apresentem quedas significativas. Ver post no Ecce Medicus: A Ciência Médica em 16 de março 2008.

Não se defende o abandono da autópsia como ferramenta médica útil. Se constata sua obsolescência frente a uma matriz cultural e mercadológica que ditam o curso do agir médico contemporâneo.

Infelizmente....