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sexta-feira, 5 de setembro de 2008

O Risco

photo by Ivan Makarov

Na Epidemiologia do Risco, a "velha" epidemiologia observacional das doenças infecciosas, com inveja das ciências médicas experimentais, abandona sua antiga metodologia da exposição e passa "a tratar principalmente das doenças crônicas não-transmissíveis, para as quais os métodos observacionais ainda não foram completamente explorados. Através do estudo das circunstâncias sob as quais essas doenças experimentam uma prevalência incomum, espera-se identificar áreas nas quais o trabalho experimental laboratorial possa se concentrar para a identificação dos agentes causais específicos."

No Risco, a especulação causal é a razão de ser da investigação biomédica e deve sugerir vínculos causais para que as ciências biomédicas experimentais explorem "adequadamente" tais associações. Uma das principais críticas desse tipo de atitude é sua inerente "rarefação teórica". Se quer dizer com isso que a validação das proposições geradas na epidemiologia do risco não vem de "dentro", mas de "fora", ou seja, das ciências biomédicas, ditas "duras". Ao terceirizar seu discurso de verdade, a epidemiologia ficou refém da doença e de seus correlatos.

Essa situação abre caminho para as deformações do pensamento médico da atualidade e aqui me distancio do professor José Ricardo Ayres. Hoje a Epidemiologia do Risco (com toda sua rarefação teórica) substitui a Anatomia Patológica na racionalidade médica contemporânea! A validação do discurso da Anatomia Patológica era dada através da própria experimentação e análise post-mortem. A Epidemiologia do Risco não valida seu discurso, remete essa tarefa às ciências biomédicas, que sem saber para onde ir, por sua vez, erram sem destino, dando a exata sensação de caminhar em círculos. Ao transferir esse raciocínio para a esfera do mundo acadêmico, entendemos as "máquinas de publicação", fator impacto, medicina baseada em evidências e todos os fatores que tornam a medicina contemporânea excelente, porém praticada por médicos muito ruins.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Philanthropy Based Medicine


Tem-se falado mal das indústrias farmacêuticas - a Big Pharma. Em especial, sobre o modo como elas, de uma forma geral, vêm tratando as evidências que elas mesmas produzem. Várias são as acusações de distorções de dados e até tentativas recentes de não publicar estudos negativos (aqueles nos quais o efeito esperado de determinada droga não pôde ser demonstrado).

Não que a grande indústria seja filantrópica, mas existem ações positivas de fato. Como conhecer essas ações e, o que é mais interessante, como comparar ações de diferentes corporações entre si é a pergunta que o access medicine index tenta responder. Os objetivos da fundação são:

"The Access to Medicine Foundation believes that improving global access to medicine is a responsibility of us all. That includes governments, medical researchers and nongovernmental organizations. It also includes investors and pharmaceutical companies, which, as the owners of vital knowledge, technology and infrastructure, have particular roles to play. Indeed, the last Millennium Goal includes the aim to provide access to affordable essential drugs in developing countries in cooperation with pharmaceutical companies."

No site (muito bonito por sinal!), pode-se baixar relatórios sobre as indústrias, verificar áreas onde elas têm uma atuação mais decisiva e ver o ranking de 2008. A campeã esse ano é a britânica Glaxo Smithkline.

A exemplo do que descrevemos para as notícias médicas divulgadas na mídia leiga, tal iniciativa deve ser usada para argumentar e repensar o papel das companhias farmacêuticas na melhoria da qualidade de vida das pessoas, principalmente as de países em desenvolvimento.

Da mesma forma que se propõe um consumo dirigido a empresas que demonstram ações ambientais, talvez chegue o dia em que prescreveremos medicações baseados em filantropia.

sábado, 8 de março de 2008

Medicina e Pós-modernidade


"Within medicine one response to the relativism and uncertainty created by postmodernism has been to emphasise the evidence on which medicine is based. After all, if there are knowable medical truths "out there" then we should get our act together and apply them. Evidence based medicine promises certainty--do enough MEDLINE searches and you will find the answer to your prayers. Read in this way, evidence based medicine is a reaction to the multiple, fragmented versions of the "truth" which the postmodern world offers. It is also a serious attempt to invent a new language that might reunite the Babel of doctors and patients, managers and consumers. However, an evidence based approach will only work for as long as we all view medicine as "modern"--that is, as making statements about an objective, verifiable external reality. To the postmodernist the question is whose "evidence" is this anyway and whose interests does it promote?"

Paul Hodgkin contesta o "tratamento" de Bruce Charlton. E vai além, chama a atenção para a intromissão da tecnocultura no pensamento médico contemporâneo. Abrindo o caminho para Hofmann.

sexta-feira, 7 de março de 2008

O Castelo Sitiado


Mais do texto de Bruce Charlton (que acertou o diagnóstico mas errou o tratamento! - comentaremos mais sobre o artigo.)

"In a condition of post-modernity there is no progress; merely fashion - there is no purpose, merely change. Society has become a conversation not an argument, a conversation without goal or end-point. Medicine, however, has not abandoned ideas of progress, neither has it abandoned the idea of purpose. Medical progress is seen in the conventional accounts of more effective surgery, powerful antibiotics with minimal side effects, successful prolongation of the life of diabetics, new cures for leukaemia, etc. If the purpose of medicine is to alleviate illness and cure disease, there is also an end point. After that goal has been achieved, the work of medicine is done, and the non-sick can get on with living. Progress towards that goal can be rationally and objectively charted. Medicine is modernity in action.

However, the position of modernist medicine in postmodern culture explains why there is a constant tendency for the boundaries of medicine to breakdown. Medicine tends to become engulfed by the surrounding aesthetic, feel-good, 'life-style' modes of thought which dissolve medical certainties into mere matters of fashion and preference. The plurality of views and lack of a shared moral framework has made cynicism commonplace, and medical 'objectivity' is
cynically redescribed in terms of veiled self-interest. On the other hand medicine is inclined to burst its banks and attempt the subjugation of surrounding 'relativistic' territories using such 'objective' weapons as the prestige of science and the professional consensus of doctors."

Dissolver certezas médicas em modismos e preferências... A falta de uma matriz moral comum da medicina com a sociedade e o lugar-comum do cinismo... Como subjugar os territórios relativísticos que a sitiam se não com armas objetivas como o prestígio da ciência e o consenso de médicos? Evidence-Based Medicine!