photo by Ivan Makarov
Na Epidemiologia do Risco, a "velha" epidemiologia observacional das doenças infecciosas, com inveja das ciências médicas experimentais, abandona sua antiga metodologia da exposição e passa "a tratar principalmente das doenças crônicas não-transmissíveis, para as quais os métodos observacionais ainda não foram completamente explorados. Através do estudo das circunstâncias sob as quais essas doenças experimentam uma prevalência incomum, espera-se identificar áreas nas quais o trabalho experimental laboratorial possa se concentrar para a identificação dos agentes causais específicos."
No Risco, a especulação causal é a razão de ser da investigação biomédica e deve sugerir vínculos causais para que as ciências biomédicas experimentais explorem "adequadamente" tais associações. Uma das principais críticas desse tipo de atitude é sua inerente "rarefação teórica". Se quer dizer com isso que a validação das proposições geradas na epidemiologia do risco não vem de "dentro", mas de "fora", ou seja, das ciências biomédicas, ditas "duras". Ao terceirizar seu discurso de verdade, a epidemiologia ficou refém da doença e de seus correlatos.
Essa situação abre caminho para as deformações do pensamento médico da atualidade e aqui me distancio do professor José Ricardo Ayres. Hoje a Epidemiologia do Risco (com toda sua rarefação teórica) substitui a Anatomia Patológica na racionalidade médica contemporânea! A validação do discurso da Anatomia Patológica era dada através da própria experimentação e análise post-mortem. A Epidemiologia do Risco não valida seu discurso, remete essa tarefa às ciências biomédicas, que sem saber para onde ir, por sua vez, erram sem destino, dando a exata sensação de caminhar em círculos. Ao transferir esse raciocínio para a esfera do mundo acadêmico, entendemos as "máquinas de publicação", fator impacto, medicina baseada em evidências e todos os fatores que tornam a medicina contemporânea excelente, porém praticada por médicos muito ruins.