domingo, 6 de julho de 2008

Marvada Pinga


Do blog da poeta Graziela Arantes


Está ficando enfadonho, mas sou obrigado de novo a discordar de José Arthur Giannotti e a concordar com Paulo Lotufo. Sou a favor da nova Lei! Principalmente quando deixo de pensar em mim (Sim, eu como todo brasileiro, sei muito bem me cuidar e etc, etc) e começo a pensar nos meus filhos adolescentes. Veja abaixo o texto de Giannotti.

A lei seca e a secura do Estado

Rigor excessivo contra motoristas que ingerem álcool oculta um Estado fraco e põe em risco o próprio respeito à norma

JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI
COLUNISTA DA FOLHA

É dever moral evitar acidentes causados pelo exagero no consumo de bebida alcoólica. É dever do Estado coibir o desatino de pessoas alcoolizadas dirigirem seus veículos; cabe-lhe puni-las segundo o rigor da lei. Como, porém, se determina esse rigor para torná-lo efetivo? Bebidas alcoólicas tradicionalmente fazem parte de nosso cardápio. No Mediterrâneo, o vinho, o trigo e a azeitona compuseram a base da alimentação que permitiu o desenvolvimento do Ocidente. Na França costuma-se dizer que uma refeição sem vinho é como um dia sem sol. E os cardiologistas aconselham que se tome um copo de vinho tinto diariamente para evitar doenças coronárias. O problema, portanto, não é o álcool, mas o exagero e o vício. Aliás, como a comida e o sexo. O caso do álcool é mais pungente, pois seu consumo desmesurado, além de causar danos a quem bebe, freqüentemente e cada vez mais atinge pessoas inocentes, que nada têm a ver com os exageros e os vícios alheios. Isso porque nos tornamos cada vez mais dependentes do automóvel como meio de transporte.

Situação esdrúxula
E o caso das grandes metrópoles, em particular o de São Paulo, mostra como medidas urgentes devem ser tomadas.
De um lado, diminuindo o peso do transporte individual; de outro, coibindo o exagero do consumo do álcool. Ora, toda a questão reside na medida desse exagero. Segundo a Folha de domingo passado, os EUA e o Reino Unido admitem oito decigramas de álcool por litro de sangue, a França, cinco, e o Brasil, dois, junto com Noruega e Suécia. Essa medida equivale a proibir que a pessoa dirija depois de beber um copo de cerveja ou de vinho.

Punição à maioria
Chegamos a uma situação esdrúxula: em vez de o Estado determinar a medida da segurança, simplesmente se isenta dessa medida e pune aquele que bebe moderadamente, ciente de seus limites e de suas obrigações sociais.
Em resumo, pune a maioria para evitar que desregrados causem malefícios. Na Noruega e na Suécia, a tolerância zero tem lá suas razões de ser. No Brasil, esse exagero simplesmente repete o espetáculo de violência de um Estado fraco, que encena uma força desproporcional a seus recursos simplesmente para atemorizar. Isso equivale a legislar para que a lei não pegue, obviamente depois de saciar a boa consciência dos bem pensantes. Como de costume, os brasileiros enfrentam um problema desfraldando a bandeira do rigor da lei para deixar tudo como está, menos o respeito pela lei, o qual se degrada a cada dia.


JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI é professor emérito da USP e coordenador da área de filosofia do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. Escreve na seção "Autores", do Mais! .

4 comentários:

Maria Guimarães disse...

eu não entendi a necessidade de fazer uma nova lei (que muita gente não planeja respeitar), em vez de pôr em prática a que já existia.

Karl disse...

Ops,

Como é a antiga?

Maria Guimarães disse...

por acaso hoje vi um artigo na edição de abril dos Cadernos de Saúde Pública, que mostra que em belo horizonte 20% das pessoas paradas durante a pesquisa estavam no limite permitido pelo código de trânsito brasileiro (0,6g/l - http://www.denatran.gov.br/ctb.htm)ou acima dele.
ainda não consegui me convencer de que a prioridade é pegar essas pessoas. gastar prisão com quem tomou dois chopes me parece dispersão de recursos já escassos.
ou não é? tou bem disposta a ser convencida do contrário.

Karl disse...

Meio que concordo com o Gravataí Merengue:

"A lei nunca permitiu que se bebesse e dirigisse, a menos que a quantidade de álcool fosse muito pequena. Uma nova lei tratou de diminuir essa quantidade, reduzindo-a praticamente a zero.

O que acho? Excelente. Ninguém foi tolhido de seu direito de beber, mas não se pode mais beber e dirigir. Simples assim. Vai beber? Então, não dirija. Não é mais um outdoor edificante, é lei."

Veja novo post.