domingo, 18 de maio de 2008

Neo-obscurantismo



Segundo Morin, o desenvolvimento científico comporta um certo número de traços "negativos" que são bem conhecidos, mas que, muitas vezes, só aparecem como inconvenientes secundários:

1) Superespecialização: enclausuramento ou fragmentação do saber;

2) O ponto de vista das ciências da natureza exclui o espírito e a cultura que produzem.

3) Revolução na história do saber, em que ele, deixando de ser pensado, meditado, refletido e discutido por seres humanos, integrado na investigação individual de conhecimento e de sabedoria, se destina cada vez mais a ser acumulado em bancos de dados, para ser, depois, computado por instâncias manipuladoras, o Estado em primeiro lugar.

4) Neo-obscurantismo. O especialista torna-se ignorante de tudo aquilo que não concerne a sua disciplina e o não-especialista renuncia prematuramente a toda possibilidade de refletir sobre o mundo, a vida, a sociedade, deixando esse cuidado aos cientistas, que não têm nem tempo, nem meios conceituais para tanto.

Essa última, tem especial aplicação à prática médica contemporânea e aos "cientistas em exercício ilegal da medicina".

6 comentários:

Anônimo disse...

Caro Karl, acho que o post não foi capaz de me explicar a tal "unificação dos saberes". Ou não teria eu entendido direito? Penso que você havia se referido há uma "fórmula matemática unificadora das ciências", perseguida em vão tal qual o cálice do Santo Graal.
Abraço!

Karl disse...

Para mim, a unificação dos saberes ou a religação, como diz Morin, é um antídoto ao neo-obscurantismo do item 4 do post, decorrente da superespecialização do item 1, que produz o ponto de vista do item 2 e o efeito do item 3.

Anônimo disse...

Não estou convencido, ainda. A superespecialização é "só" deletéria? Não há nada de positivo? Ainda acho que a unificação é parceira da utopia socialista...

Karl disse...

Não se trata de um juízo de valor sobre a superespecialização. É fato, entretanto, que ela não dá conta de muitas explicações, principalmente quando é necessário integrar várias áreas do conhecimento.

Poderia, caríssimo Aleph, esclarecer-me a relação entre unificação dos saberes e utopia socialista?

Anônimo disse...

Ambas as idéias são utópicas!

Karl disse...

Caro Aleph, quero crer não estejas a confundir utopias com utopismo. A interdisciplinaridade, sabes tanto quanto eu, é uma das grandes dificuldades da medicina contemporânea. Um discurso democrático entre as especialidades médicas e destas com o paciente seria extremamente benvindo, por mais utópico que possa parecer aos nossos olhos hoje em dia.