domingo, 22 de junho de 2008

In Silico Clinical Trials!?


Participei neste fim de semana do V Fórum Internacional de Sepse. Foram palestras interessantes e que sempre acabam por acrescentar algum conhecimento ao médico praticante. Mas é inevitável a sensação de que apesar do corpo de conhecimento sobre o assunto ter aumentado consideravelmente, pouco evoluimos quanto a potenciais intervenções terapêuticas. Há alguns anos, surgiu um pacote de intervenções que parecia indicar um caminho. Hoje, 6 ou 7 anos depois, não há uma daquelas condutas que não esteja sendo reavaliada, algumas tendo seu grau de recomendação rebaixado, a ponto de um palestrante atribuir a pequena redução na mortalidade conseguida ao fato do protocolo ter trazido o médico à beira do leito do paciente, como um efeito Hawthorne médico.

Coincidentemente, na Plos de 25 de Abril, um incrível artigo sobre Translational Systems in Biology, que poderia ser traduzido em algo como sistemas de intercomunicação em biologia (se alguém pensar em alguma coisa melhor, por favor me avise!!), falando exatamente sobre sepse. Vejamos o autor:

"Sepsis was the motivating clinical problem that led to mathematical modeling of inflammation. Intensive care physicians recognize that sepsis therapy has not changed substantially for decades despite an enormous amount of data generated from in vitro and animal studies, as well as from clinical studies [41][44]. The first approaches were designed to answer the question, “What are the dynamics of sepsis, and does our lack of therapies imply some yet undiscovered mediator of the syndrome?” In mainstream biology and biotechnology, this question motivates the ongoing search for a “magic bullet” to treat sepsis. The translational systems biology formulation of the question, though, was reworded to reflect a different philosophical approach to research, i.e., “Is the current state of knowledge insufficient to explain observed clinical behaviors?” Thus, the missing knowledge was assumed not to be a missing molecule or pathway, rather the missing knowledge was assumed to be an understanding of how all the various components involved in the sepsis response are organized and how they interact to generate a behavior."

Como corolário desse tipo de modelagem, surge a possibilidade de realizarmos ensaios clínicos totalmente simulados (
in silico ou wet) onde ainda poderiamos incluir dados genéticos entre outros deteminismos. O esquema acima é de um artigo da Science (aqui, para assinantes) que fala sobre a teoria dos sistemas em biologia, citado no artigo em questão.

A abordagem multi-nível e a modelagem matemática de sistemas biológicos nos trará importantes informações sobre estados complexos onde vários componentes de vários níveis de complexidade (moléculas, proteinas, células, células invasoras, etc) interagem não de forma unívoca em resposta a insultos. Esse tipo de interação que aliás, marca os seres vivos e suas doenças, não se presta a abordagens tipicamente reducionistas, uma das grandes diferenças reconhecidas entre a biologia e as ciências naturais. Vitalismos à parte.

4 comentários:

Maria Guimarães disse...

esse enfoque de reunir áreas de conhecimento diferente parece a grande promessa da pesquisa, sobretudo na área médica. vou olhar esse artigo, obrigada.
e um pouco de propaganda: uma matéria que escrevi sobre pesquisa em sepse: http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=3494&bd=1&pg=1&lg=

Karl disse...

Excelente artigo, Maria. Bastante fiel ao que pensamos e estamos tentando fazer no momento.

O que o post questiona é exatamente isso. Talvez essa abordagem convencional não seja suficiente para conseguirmos resultados maiores que os 7%. Não há nenhum artigo confiável que mostre que a abordagem proposta pela campanha resultou numa mortalidade menor que a que seria de se esperar somente pelo fato de estarmos vigiando os pacientes mais de perto (o tal de efeito Hawthorne).

Autores como os citados no post, trazem metodologias diferentes que já resultaram em novas informações.
Nossa abordagem é ainda meio "caixa-preta" pois os estudos experimentais ainda não trouxeram benefícios reais palpáveis. Toda ajuda com certeza será benvinda.

Maria Guimarães disse...

lembra de me manter informada dos avanços!

Anônimo disse...

Caro Karl, gostaria de contatá-lo para fazer uma proposta, mas não encontro seu e-mail. Por favor, deixe um comentário com e-mail no meu blog para podermos conversar. Obrigado e um abraço.