domingo, 31 de agosto de 2008

Auto-Retrato


Esta figura de Patrick Corrigan descreve como poucas o objetivo desse blog: a reflexão do médico sobre sua atividade diária. O símbolo moderno do médico e da Medicina é a caveira (ou, mais corretamente, o crânio! Que o digam as faculdades, associações acadêmicas e atléticas). Esse tipo de reflexão, às vezes, pode causar uma espécie de mal-estar ou um curto-circuito cerebral, mas sempre valerá a pena.

8 comentários:

Dr. Strangerlove disse...

A caveira (crânio ou esqueleto), escolhida como símbolo para médicos, ainda em sua fase de formação, sempre esteve associada à morte no senso comum.
Recentemente, nos deparamos com um paradoxo: é cada vez mais freqüente a presença de representações dessas figuras na sociedade, enquanto a mesma se distancia dessa etapa da vida.
A morte durante séculos, milênios, fez parte da vida das pessoas.
Hoje não faz mais. Em seus momentos derradeiros o mais normal é uma pessoa estar solitária em um quarto de hospital, ou pior em uma cama de UTI. Distante das pessoas com quem conviveu durante toda uma vida, das pessoas que certamente gostaria de se despedir... pessoas familiares, àquelas que sempre recorremos nos momentos difíceis...
Nesse momento está cercado por estranhos (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos), pessoas que muitas vezes acabou de conhecer, em um ambiente frio, com monitores, alarmes, sondas, cateteres...
Hoje é desumano, uma pessoa morrer em casa, no lar... sem assistência médica, uma barbaridade.
Quando eu morrer, espero que seja, como por milhares de anos morreram os bárbaros, em casa... junto daqueles com quem construi minha vida, sereno, com a certeza que cumpri com dignidade essa etapa da vida...
Cada vez mais em voga a palavra humanização, e uma sensação (espero que seja só minha) que cada vez mais distante está de ser alcançada. Acho que a sociedade precisa debater mais de perto esse paradoxo...

Anônimo disse...

Signore Dr. Strangerlove,

será que as pessoas que estarão ao seu redor suportarão vê-lo muorire em casa?

Dr. Strangerlove disse...

Pergunta pertinente... Hoje somos tão mais nobre do que éramos há 50, sessenta anos atrás que não suportamos presenciar uma coisa natural da vida: a morte???
Basta perguntar para nossos avós e eles contarão como era no tempo deles... as pessoas morriam em casa, sempre foi assim, por agora não suportariamos???
Vou além, acho que perdemos muito "isolando" as pessoas em seu fim de vida. Deixamos de dar conforto aos nossos entes mais próximos, sob uma falsa sensação de 'fiz tudo o que podia', e deixamos de presenciar o fim da vida, embora uma experiência dolorosa, pode ser de extremo crescimento pessoal... no caminho de tornar o mundo mais humano...
Essa é apenas uma opnião pessoal, embasada no contato que eu tenho com alguns pacientes de 60 a 100 anos, eles vivenciaram muitas mortes, pessoalmente, suportaram e viveram durante muito tempo...

Anônimo disse...

Caro Signore Dr. Strangerlove,

nel mio gabinete, tutti le personi acreditam que isso é um pouco de "clichê": crescimento pessoal pela experiência de testemunho dela morte. Há altri maneiras de "crescere". De qualquer jeito, respetto su opinião.

Dr. Strangerlove disse...

Pode ser um pouco de clichê... Mas, acredito que mesmo assim estamos extirpando das pessoas uma série de sentimentos que elas nunca vão poder conhecer... se, ao contrário perguntarmos para uma pessoa de 40 anos quantas pessoas ela viu morrer, com raras exceções, a resposta vai ser zero...
E isso tornou essa geração muito melhor, por não ter de conviver com a "atrocidade" da morte?

Anônimo disse...

Mas quem che ha detto que não extirpar certos sentimenti não seja buonno? Será que a humilhação dos campos de concentração, tutti le muorte presenciadas, foram sentimentos não extirpados benéficos, para un crescimento interiore? Non, non.

Dr. Strangerlove disse...

Acho que o senhor é um tanto confuso, não estou falando de mortes violentas, afinal os campos de concentração não estão muito longe das matanças que acontecem em São Paulo ou no Rio, que são numericamente maiores do que cidades nem tão pacíficas como Bagdá.
Estou falando de mortes naturais, afinal embora alguns queiram, ao que eu saiba não existe caso relatado de alguém que vive para sempre.
Extipar atrocidades não é e nem nunca vai ser ruim, extipar ou esconder o que natural da vida (nascer, viver e morrer... até que alguém mostre que estamos enganados a esse respeito) é muito ruim, até mesmo pois estamos escondendo a parte final da vida, ou seja estamos escondendo o que vai acontecer com todos... então estamos caminhando para vivermos sempre enganados...
Respeito a sua opinião, mas eu estou falando de uma coisa e o senhor de outra...
Mas, existem pessoas que adoram viver em redomas, quanto menos soubermos da realidade melhor...

Anônimo disse...

Thank You superrr...