Sigamos Zygmunt Bauman:
"Num mundo fundamentado na promessa de liberdade para os poderes criativos humanos, a inevitabilidade da morte biológica era a mais obstinada e sinistra das ameaças que pairava sobre a credibilidade dessa promessa e, assim, sobre o fundamento desse mundo". Necrofobia...
A morte foi desconstruída na modernidade. São enormes os avanços na arte de repelir toda e qualquer causa de morte. A fragmentação do discurso é um velho truque para tirar de imediato o temor maior: a própria morte. Hoje, ela é substituída por incríveis fatores de risco!
Não. Eu não preciso de religião para tranquilizar-me com o pós-vida. Posso sublimá-la facilmente na lúdica tarefa de fugir da morte à módicas prestações, seja driblando fatores de risco, tratando pseudo-doenças ou quem sabe, contribuindo com alguma ONG. Os desejos da sociedade e os da indústria farmacêutica quase que se fundem promiscuamente... Como o remédio que tomo é muito bom, comprarei também as ações! Melhor ser rico e saudável que pobre com doença...
Nesse sentido, o texto de Shannon Brownlee, uma premiada jornalista americana de Medicina e Ciência, n`O Estado de S. Paulo neste domingo (13/04/08), é exemplar e repercute , felizmente. (Clique aqui para o original em inglês e o traduzido)
Mas Bauman conclui:
"No entanto, o preço dessa desconstrução é a vida policiada do princípio ao fim pelos exércitos ubíquos do inimigo banido. Havendo recusado enfrentar com coragem a incompatibilidade da promessa moderna com o fato da mortalidade humana, tornamo-nos de fato, ao menos temporariamente, inválidos acompanhando a vida das janelas do hospital"
Continuaremos com Zygmunt ainda mais um pouco.
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